Rômulo Gonçalves, condenado por golpe dos cartões, aparece ligado a sócio de fundador da X-Tudo; elo alcança Azeite Royal e Flamengo
Os vínculos empresariais que aproximam a X-Tudo Comunicação, o Azeite Royal e personagens do futebol carioca ganharam contornos mais nítidos nos autos de processos e nas decisões judiciais que se acumularam na última década. No centro do enredo está o empresário Rômulo dos Santos Gonçalves, condenado em junho do ano passado pelo TRF-2 a 8 anos e 6 meses por furto e associação criminosa, em ação derivada de um esquema milionário de clonagem de cartões. A pena está em grau de recurso. Nos mesmos autos, figura Eduardo Vinícius Giraldes Silva, rosto público do Azeite Royal e também condenado — 5 anos, 10 meses e 15 dias — igualmente recorrendo.
Paralelamente ao processo penal, Rômulo ingressou no ramo de alimentação. Hoje, detém participação em duas empresas administradoras de franquias da rede Espetto Carioca, com capital social somado de R$ 600 mil. Entre os sócios, está Bruno Lins Gorodicht, um dos fundadores da X-Tudo Comunicação, agência que, desde o início da gestão Rodolfo Landim, presta serviços de mídias sociais e peças publicitárias ao Flamengo. Embora não conste formalmente no quadro da X-Tudo, Marcelo Gorodicht, irmão de Bruno, é apontado no mercado como o comandante de fato da operação — posição que, inclusive, já rendeu críticas recorrentes de torcedores à linha criativa.
Os laços comerciais de Rômulo com o Espetto remontam a anos anteriores. Em decisão do STF de 2014, citada em processo correlato ao golpe dos cartões, ministros registraram que apreensões de carros de luxo e movimentação bancária atípica não se coadunariam com a participação societária modesta então declarada na empresa de bar e botequim — observação usada para sustentar a necessidade de cautela à época. Hoje, além das franquias das quais participa com Bruno Lins e Almerinda Pereira da Silva Souza, Rômulo ainda integra a Bar e Botequim Espetto Américas (capital de R$ 20 mil), com Leandro Pereira de Souza.
Do lado da X-Tudo, os registros da Junta Comercial indicam que Bruno Lins se afastou formalmente em janeiro de 2018 da FSA Comunicação (origem da marca X-Tudo, criada em 2011). Na sequência, Gabriel Trindade Silva entrou no quadro — e foi preso em flagrante em maio de 2018 por conduzir moto roubada na Tijuca. Coincidência ou não, Gabriel também aparece como sócio de três unidades do Espetto Carioca no Rio: Recreio, Centro e Madureira.
A marca X-Tudo se conecta a quatro CNPJs. A que atua no Flamengo é a M2FA Comunicação, aberta em setembro de 2018, com Francisco Cantanhede, Marcos Milton Romano Pedrosa e Ricardo de Aquino Corrêa como sócios oficiais; na prática, quem se apresenta como diretor-executivo e “homem forte” é Marcelo Gorodicht.
O outro polo do enredo envolve o Azeite Royal — patrocinador recente de grandes clubes. No Vasco, por exemplo, a história se entrelaça ainda com o Espetto Carioca. Em 2018, em meio à crise política, o clube contratou emergencialmente o Espetto para alimentação. O contencioso sobre pagamentos levou a rede a cobrar R$ 2,9 milhões na Justiça. Em julho do ano passado, as partes fecharam acordo em R$ 1,671 milhão, a ser quitado em parcelas até junho de 2022, conforme processo que tramita no TJ-RJ. Duas semanas antes, o Vasco havia assinado patrocínio com o Azeite Royal, válido até 2019 e renovado para 2020.
Há ainda um fio policial que conecta Rômulo a outra trama. Em escutas telefônicas do caso dos cartões, ele teria usado linhas de uma empresa chamada LGA Transporte e Materiais de Construção, formalmente em nome de Abílio Veiga da Trindade. Abílio figura em processos cíveis por fraude de escrituras de terrenos na Barra da Tijuca; segundo ação e reportagem de 2017, ele seria um “laranja”, à época vigia de shopping e morador de Oswaldo Cruz.
O modus operandi descrito pelo MPF no processo de clonagem atribuído à quadrilha é conhecido: instalar máquinas POS adulteradas em comércios (frequentemente se passando por funcionários de Redecard, Visanet ou Ticket), recolher cartões falsificados e comprar produtos para alimentar uma rede de receptadores com deságio. Segundo os autos, Eduardo Giraldes (“Pisca”) teria experimentado um salto abrupto de R$ 3,5 milhões em movimentação ao longo de 2011, com evolução patrimonial apontada em 373%.
Mesmo condenado em segunda instância e recorrendo, Rômulo obteve, no início de fevereiro, autorização para viajar à Flórida (20/2 a 1/3). A decisão, assinada pelo desembargador federal Paulo Espírito Santo, citou o entendimento do STF que afastou a execução antecipada da pena após segunda instância. Em agosto passado, pedido semelhante havia sido negado pela Justiça Federal.
O que dizem os citados
O Flamengo respondeu que “a X-Tudo não tem nada com o Azeite Royal”. A X-Tudo negou qualquer relação com Rômulo Gonçalves e também ingerência do Azeite Royal em sua atuação no clube. A Espetto Carioca e o Azeite Royal não responderam aos contatos encaminhados por e-mail até a publicação desta versão. O espaço segue aberto.

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