PF Solicita Inclusão de ‘Beto Louco’, Líder de Facção, na Lista Vermelha da Interpol por Gastos Milionários

Operação da Polícia Federal Mira Chefes de Facção

A Polícia Federal (PF) deu um passo significativo na investigação sobre a infiltração de uma facção criminosa, o Primeiro Comando da Capital (PCC), no setor de produção e distribuição de combustíveis. A corporação solicitou formalmente a inclusão de oito foragidos na lista vermelha da Interpol, um alerta global para a localização e prisão de criminosos procurados internacionalmente. Entre os nomes destacados na solicitação está Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como ‘Beto Louco’, apontado pelas forças-tarefas como um dos principais líderes da organização. As investigações revelaram que Leme da Silva teria movimentado e gasto uma quantia próxima a R$ 8 milhões em compras nos últimos cinco anos, um valor que contrasta com a ausência de declaração de imposto de renda.

A Estrutura Criminosa e a Liderança Oculta

A apuração conduzida pela força-tarefa desvendou uma complexa e extensa cadeia de produção criminosa de combustíveis. Por trás dessa estrutura, opera uma organização com dois chefes principais, sendo um deles, ao que tudo indica, detentor de maior poder e influência. Segundo o Ministério Público, Roberto Augusto Leme da Silva, o ‘Beto Louco’, apresenta um fluxo oculto de renda, um patrimônio e um benefício econômico imediato significativamente maiores em comparação com Mohamad Hussein Mourad, o outro líder apontado pela investigação.

O Primado da Ocultação e a Rede de Empresas

Os promotores enfatizam que tanto Roberto Augusto Leme da Silva quanto Mohamad Mourad operavam sob o que denominaram de ‘primado da ocultação e da fraude’. Essa expressão descreve a estratégia central do grupo: a criação sistemática de mecanismos sofisticados para enganar as autoridades e dissimular suas atividades ilícitas. Os dois chefes eram responsáveis pela gestão do grupo Aster e Copap, entidades que controlavam uma vasta rede de combustíveis. Além disso, a força-tarefa descobriu que eles ocultavam posições societárias em uma série de outras empresas, diversificando suas operações e dificultando o rastreamento. Essa rede incluía usinas sucroalcooleiras, distribuidoras e postos de combustíveis, armazéns, indústrias químicas e lojas de conveniência.

Escondidos por trás de uma intrincada rede de colaboradores, mecanismos fraudulentos e múltiplas camadas societárias e financeiras, os líderes, segundo os investigadores, geravam e administravam lucros bilionários provenientes de seus negócios ilícitos.

O Estilo de Vida Luxuoso de ‘Beto Louco’

O esquema criminoso, conforme a investigação, não apenas gerava lucros exorbitantes, mas também sustentava um estilo de vida de extremo luxo para ‘Beto Louco’ e sua esposa, Thalita Martins Leme. O casal possui residência em Tamboré 2, um condomínio de alto padrão localizado em Santana de Parnaíba, na região metropolitana de São Paulo. Contudo, eles eram frequentemente vistos em outros imóveis luxuosos, como casas de veraneio na Riviera de São Lourenço, no litoral paulista, e em Trancoso, em Porto Seguro, na Bahia, evidenciando uma rotina de ostentação.

Gastos Extravagantes e Viagens Internacionais

Um dos pontos mais reveladores da investigação é a discrepância entre o estilo de vida do casal e a ausência de declaração de imposto de renda e patrimônio desde 2017. A análise detalhada das notas fiscais, realizada pelos investigadores, expôs um orçamento extravagante: o casal teria gastado mais de R$ 7,7 milhões em compras apenas nos últimos cinco anos. A ostentação não se limitava ao Brasil. Em viagens internacionais, ‘Beto Louco’ e sua esposa também demonstravam não economizar. Durante uma visita à Inglaterra e aos Emirados Árabes Unidos, o casal teria despendido o equivalente a R$ 250 mil em lojas de luxo, hotéis e restaurantes, conforme os dados da investigação.

Em Dubai, a força-tarefa apurou que o casal se hospedou no Ritz-Carlton, um dos hotéis mais luxuosos do mundo. Em Londres, a escolha foi o estrelado The Berkley, e uma passagem pela renomada loja Harrods resultou em compras que somaram o equivalente a R$ 100 mil, realizadas entre os dias 14 e 22 de setembro de 2023.

Mecanismos Financeiros: Fundos de Investimento

A investigação também revelou como grande parte do dinheiro gerado pelo grupo era movimentada. Os recursos eram direcionados para, ao menos, 40 fundos de investimentos. Uma parte significativa desses fundos era administrada pela REAG, uma das maiores gestoras de ativos do país, listada na Bolsa de Valores de São Paulo. Segundo a apuração, essas aplicações financeiras reuniam um montante impressionante de R$ 30 bilhões.

Em resposta às acusações, a REAG afirmou que, dos dez fundos que possuía, renunciou a oito deles, e que os dois restantes não são objeto da investigação em curso.

As Defesas dos Acusados

As defesas dos principais envolvidos se manifestaram sobre as acusações. A defesa de Roberto Augusto Leme da Silva declarou que as operações recentes vincularam, de forma ‘absurda’, empresas lícitas dedicadas ao comércio de combustível com o crime organizado. Afirmou ainda que Roberto ‘jamais participou de qualquer organização criminosa’ e que sua inocência será comprovada ao longo do processo judicial.

Por sua vez, a defesa de Mohamad Mourad repudiou as acusações, assegurando que também provará sua inocência. Acrescentou que, até o momento, não existe nenhum indício concreto que permita uma ligação de Mohamad com o tráfico de drogas e com as atividades ilícitas atribuídas ao PCC.

O Jornal Nacional tentou contato com o grupo Aster e Copap, mas não obteve resposta até o momento da publicação desta matéria.

A Estratégia do PCC e a Ação da Interpol

A solicitação de inclusão de foragidos na lista vermelha da Interpol é um instrumento crucial na cooperação policial internacional. Uma ‘difusão vermelha’ não é um mandado de prisão internacional em si, mas um pedido às autoridades policiais de todo o mundo para localizar e prender provisoriamente uma pessoa com vista à sua extradição ou entrega, com base num mandado de prisão nacional válido. Essa ferramenta é frequentemente utilizada em casos de crime organizado transnacional, como o que envolve a facção criminosa investigada.

O Primeiro Comando da Capital (PCC) tem, ao longo dos anos, diversificado suas atividades criminosas, expandindo-se para além do tráfico de drogas e assaltos. A infiltração em setores da economia formal, como o de combustíveis, representa uma estratégia para lavar dinheiro e gerar lucros bilionários, consolidando seu poder e financiando outras operações ilícitas. Essa tática de ‘lavagem’ através de empresas legítimas dificulta o rastreamento dos recursos e a identificação dos verdadeiros beneficiários, impactando a economia e a segurança pública.

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